13.8.20

AGRICULTURA | MAIS DO QUE NUNCA, SE O CAMPO NÃO PLANTA, A CIDADE NÃO JANTA

Por Mylena Melo no portal O JOIO E O TRIGO

Campanha solidária do MST já doou 2.300 toneladas de alimentos desde o começo da pandemia; ações projetam saídas para a crise O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem feito, desde o início da pandemia, uma das campanhas solidárias mais amplas no país. 

Tudo começou em março, quando em alguns locais, os próprios assentamentos ou áreas de acampamento tomaram a iniciativa de fazer as primeiras doações. Em pouco tempo, a atitude inspirou outras regiões a seguir o exemplo. 

“Nos anos 80 e 90, a fome era muito mais cruel, então, a gente historicamente também foi muito agraciado com práticas de solidariedade. Isso também está muito presente no sangue, no sentimento, na sensibilidade de todas as famílias que estão em áreas de assentamento e acampamento. Agora, a partilha também relembra esse tempo histórico, de quando a sociedade nos apoiou, repartiu o pão e nos ajudou”, diz Roberto Baggio, da direção nacional do MST. 

 Ação solidária no Paraná, estado que se destaca na quantidade de alimentos doados/Foto: Breno Thomé Ortega Abril é um mês tradicionalmente marcado por diversas ações do MST, como forma de manter viva a memória e luta dos trabalhadores rurais mortos pela Polícia Militar no massacre de Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996. 

A data se transformou no Dia Internacional da Luta Camponesa. Neste ano, com a pandemia e a motivação das doações que já ocorriam em alguns estados, o movimento decidiu substituir as ocupações e manifestações, que normalmente marcam a data, por ações solidárias espalhadas pelo Brasil. 

Foi aí que a campanha se nacionalizou, de fato. No Rio Grande do Sul, onde o movimento é responsável pela maior produção de arroz orgânico da América Latina, foram doados kits com arroz, feijão, farinha, massa, azeite e detergente. 

Na Bahia, foram aproximadamente duzentas toneladas de alimentos, com mais de quarenta variedades de frutas, raízes, grãos, verduras e legumes, além de leite, queijo e polpa de frutas.

No Ceará, 15 toneladas, incluindo milho verde, feijão, abóbora, melancia, mamão, pepino, banana, tomate, farinha e cinco mil litros de leite. Só em abril, as doações chegaram a 500 toneladas de alimentos. 

No mês seguinte, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, trezentas cestas contendo abóbora, batata-doce, repolho, mandioca, ovos, hortaliças, carnes e queijo foram distribuídas às comunidades indígenas Guarani Kaiowá, além de seiscentas mudas de árvores. 

Em junho, quando as doações em âmbito nacional já chegavam a 1.500 toneladas, quatro mil famílias do Paraná receberam kits com arroz, feijão, pinhão, erva-mate, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados do leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana e sabão caseiro. Agora, já existem ações do movimento em todo o território nacional. Já foram doadas 2.300 toneladas de alimentos. 

A maior parte in natura. Segundo Roberto Baggio, as ações envolvem todas as famílias do movimento. “Todos se sentem mexidos, mobilizados e participam do processo”. Ele explica que para fazer as doações existe uma articulação com entidades da cena urbana (igrejas, associações, ONG’S e lideranças comunitárias), que fazem o levantamento das famílias mais vulneráveis, estabelecem critérios de distribuição e quantidades. “Vira um diálogo solidário, de troca, de repartir o pão. E, ao mesmo tempo, de compartilhamento de informação, de cooperação para busca de novos direitos. Tem esse componente organizativo e político, justamente porque no encontro do alimento tu encontra as duas partes. O trabalho humano das famílias sem terras, que sofreram, que lutaram, conseguiram a terra e são hoje trabalhadores rurais. A outra parte são trabalhadores urbanos que, com a crise econômica, social e com a pandemia, também estão em situação frágil”. 

Baggio avalia que o alimento é um elo de uma relação entre os trabalhadores. E que somente essa força nos possibilitará sair da crise. “A gente está vendo que, infelizmente, do Estado brasileiro, a gente não pode esperar nada. E do nosso empresariado, também, nada. O que nos salvará é justamente um cuidar do outro”, diz.

Para a professora de nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro, participante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da Articulação Nacional de Agroecologia, Vanessa Schottz, essa rede de solidariedade que se forma entre os trabalhadores do campo e da cidade, principalmente os da periferia, é muito importante. “Essa rede fortalece a discussão de que o direito à alimentação tem essas duas dimensões: o direito de estar livre da fome e o direito a uma alimentação que seja adequada e saudável. E, aí, abre um espaço para o debate sobre a importância da agroecologia como projeto de sociedade”, observa Vanessa. 

A coordenadora nacional do MST, Kelli Mafort, lembra que alimentação saudável não é só alimentação sem agrotóxicos. ” Isso é super importante, mas, além disso, é comida de verdade”, ressalta. Toneladas solidárias É no Paraná, estado onde o MST foi fundado há quase 40 anos, que hoje o movimento consegue distribuir a maior quantidade de alimentos in natura. “É muito visível que a fome já chegou nos rincões dos pequenos municípios aqui no Paraná. O pessoal começou a perceber que a fome estava perto”, conta Roberto Baggio. (CLIQUE AQUI PARA LER A MATÉRIA COMPLETA)

CORRUPÇÃO| No mundo do dinheiro digital, clã Bolsonaro movimentou R$ 1,5 milhão em notas

No mundo do dinheiro digital, clã Bolsonaro movimentou R$ 1,5 milhão em notas


O fetiche do japonês da Federal era encontrar dinheiro no colchão do casal Lula-Marisa em São Bernardo do Campo. Simbolicamente, Newton Ishii acabou expulso da Polícia Federal e multado em 200 mil reais por facilitar contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai. 

O fetiche do juiz federal Sergio Moro era encontrar uma empresa de fachada, num paraíso fiscal, através da qual chegaria ao dono do tríplex do Guarujá, que presumia ser o ex-presidente Lula. Quando a PF fez busca e apreensão no escritório da fábrica de empresas laranja Mossack & Fonseca, do Panamá, na avenida Paulista, em São Paulo, só encontrou indícios de que a neta de Roberto Marinho pagava anuidades de empresas de fachada em Nevada, no Panamá e nas ilhas Seychelles. 

O assunto não foi perseguido pelas autoridades, o que pode ter sido consequência da aliança entre o juiz Moro e a empresa de comunicação mais poderosa do Brasil, a Globo. 

As contas de Lula e Marisa no Exterior jamais se materializaram. Porém, o próprio MPF diz que o senador tucano José Serra, que fez uma campanha presidencial moralista em 2010, acusando o PT de corrupção, recebeu 23 pagamentos da Odebrecht totalizando o equivalente a R$ 4,5 milhões na offshore Circle Technical, no Corner Bank de Lausanne, na Suiça, em nome de José Amaro Pinto Ramos, que transferiu 936 mil euros para a conta Dortmund, da filha de Serra, Verônica. 

Em setembro de 2014, Serra tinha ao menos 1,1 milhão de euros escondidos na Suiça. A conta de outro vestal, o artífice do impeachment de Dilma Rouseff, o senador mineiro Aécio Neves, ex-presidente do PSDB, foi encontrada no LGT Bank, de Liechtenstein. Foi aberta em nome da Fundação Bogart e Taylor, em maio de 2001 — na verdade, fachada para movimentação bancária da mãe e sócia de Aécio, Inês Maria Neves Faria. 

A conta 0027.277 surgiu no período em que Aécio era presidente da Câmara dos Deputados. Já Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que na prática executou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, com a apoio de Serra e Aécio, usou um artifício mais tinhoso para esconder seu dinheiro na Suiça. As contas estavam em nomes de trustes — autoridades identificaram 2,3 milhões de francos suiços nelas. 

Apesar de mandar apreender o equivalente a R$ 651 mil reais que estavam em uma outra conta na Suiça, através da qual a mulher de Cunha, Cláudia Cruz, pagava seu cartão de crédito internacional, o juiz Sergio Moro absolveu Cláudia alegando falta de provas de que ela sabia dos esquemas de corrupção do marido. 

Quando Dilma Rousseff, ao deixar o poder, denunciou os moralistas sem moral e disse que não sobraria pedra sobre pedra, talvez não tenha imaginado que o xerife da Lava Jato ajudaria a eleger e daria sustentação no poder a uma família movida a dinheiro vivo.

Entre 1997 e 2008, a então mulher do deputado federal Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Vale, comprou 14 imóveis, cinco dos quais usando dinheiro vivo — de acordo com denúncia da revista Época. Há indícios de que Ana, mãe de Renan, era a fachada de Jair. 

Desde o início de sua história política, o clã Bolsonaro já empregou 22 parentes em cargos de assessoria em seus gabinetes na Câmara Federal, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, inclusive Ana e várias pessoas da família dela. O levantamento foi feito pelo jornal O Globo. 

Funcionários fantasmas, eles devolviam parte do dinheiro público recebido para enriquecer o clã — é o que investiga o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Ana, depois da separação, mudou-se para a Noruega e chegou a acusar Jair Bolsonaro na Justiça de ocultação de patrimônio. Mas reatou com o ex-marido e fez campanha por ele em 2018. 

Outra ex-mulher de Bolsonaro, Rogéria Nantes Nunes Braga, a mãe dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos, também comprou em dinheiro vivo um apartamento em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 1996. Foram R$ 95 mil. O dinheiro equivaleria hoje a mais de R$ 650 mil. 

Finalmente, a primeira dama Michelle recebeu R$ 89 mil em depósitos em sua conta bancária de Fabrício Queiroz e sua esposa Márcia — hoje ambos em prisão domiciliar. 

De acordo com a quebra de sigilo bancário de ambos, não houve entrada do suposto empréstimo que o presidente da República disse ter feito a seu “faz tudo”, de R$ 40 mil — razão alegada por Jair Bolsonaro para justificar os depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama. 

Mas os filhos parecem ter tomado gosto pelo manuseio de notas. Flávio Bolsonaro comprou 11 salas comerciais na Barra da Tijuca, em 2008, utilizando R$ 86.779,43 em dinheiro. Um levantamento da revista Época recém-divulgado contabilizou: o clã Bolsonaro movimentou cerca de R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo, o que inclui dos pagamentos de plano de saúde e mensalidades escolares da família de Flávio por Fabrício Queiroz aos R$ 31 mil que Carlos e Flávio usaram, através de uma corretora, para cobrir prejuízos na Bolsa. 
 
Transações em dinheiro vivo, vivíssimo, numa época em que as transferências bancárias se tornaram imensamente menos complexas. Porém, deixam rastros eletrônicos.

EDUCAÇÃO | Comissão de Educação da Alepe é contra volta das aulas presenciais

 

A Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de Pernambuco é contra a retomada das aulas presenciais. O posicionamento foi decidido pelos parlamentares, na noite desta quarta (12), após reunião remota que durou três horas e contou com dez convidados. 

“Quando as escolas voltam as aulas, move toda uma comunidade e não é seguro esse retorno agora”, avaliou o deputado Romário Dias, presidente do colegiado. Ainda de acordo com Romário, a retomada das aulas presenciais deve ser adiada para outubro ou novembro e, mesmo assim, para serem avaliadas novamente as condições de retorno. 

Os deputados ressaltaram durante a reunião que é preciso levar em conta as diferenças sociais e de estrutura das instituições de ensino existentes dos municípios pernambucanos, além de avaliar qual será o processo pedagógico para o acolhimento dos estudantes na retomada. 

“Ao todo, são 2,4 milhões de pessoas entre professores, profissionais de educação e estudantes. Isso significa cerca de 25% da população pernambucana. A possibilidade de contágio é enorme. Precisamos preservar as vidas, que devem estar sempre acima de tudo”, avaliou Romário. 

Além dos deputados, estiveram presentes na reunião remota da Comissão os secretários estaduais de Educação, Fred Amâncio, e de saúde, André Longo; dos presidentes dos sindicatos dos Trabalhadores em Educação (Sintepe), Fernando Melo, dos Estabelecimentos de Ensino (Sinepe), José Ricardo Diniz, e do Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro), Hamilton Bezerra; do presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe), Evandro José; da professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cristina Raposo; além da coordenadora Fórum Estadual de Educação, Márcia Ângelo; e dos representantes do Conselho Estadual de Educação (CEE-PE), Arthur Senna, e do Movimento Juntos Pela Educação, Daniel Max.

11.8.20

LIVE | Vereador Danilo Augusto conversa hoje Ao Vivo com o secretário estadual Lucas Ramos

O mais novo secretário da equipe do governador Paulo Câmara - o deputado estadual Lucas Ramos (PSB) - será o convidado especial da Super Live do vereador Danilo Augusto, na noite desta terça-feira, 11 de agosto. Lucas Ramos assumiu o comando da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) do Governo de Pernambuco no último dia 03.  

“Há muita coisa que poderemos trabalhar na Secretaria de Ciência e Tecnologia em conjunto com a Alepe. Nessa missão, eu me sinto como um representante do Poder Legislativo dentro do Governo Estadual”, declarou  Lucas Ramos por ocasião da sua posse.

Na live de hoje Danilo Augusto compartilha a bancada virtual também com o ex-prefeito Dêva Pessoa. 

TUPARETAMA | Sessão ordinária da Câmara teve debate acalorado e transmissão virtual com novos recursos técnicos

A Câmara de Vereadores de Tuparetama realizou na manhã desta segunda-feira, 10 de agosto, a segunda sessão ordinária deste segundo semestre de 2020. O vereador Danilo Augusto (PDT) presidente da Casa, dirigiu os trabalhos que agora contam com aperfeiçoamento e melhorias na geração e transmissão de imagens.  

As sessões continuam sem público presente no Plenário em razão das medidas de prevenção à Covid-19, mas a transmissão foi realizada AO VIVO pela Rádio Bom Jesus FM, pela fanpage da Câmara no Facebook e pelo canal do Youtube (confira a íntegra da sessão no vídeo abaixo).

Participaram da reunião os vereadores (por ordem alfabética)  Arlã Markson (PTB), Danilo Augusto (PDT), Idelbrando Valdevino (PTB), Priscilla Filó (PSB), Plécio Galvão (PDT), Orlando Ferreira (PDT), Valmir Tunu (PTB) e Vanda Lúcia (PTB). Diógenes Patriota (Solidariedade) justificou a ausência por motivo de viagem.  

RECORDAÇÃO | Há 10 anos, no Forrozão Bingado da Terceira Idade de Tuparetama

 


10 anos atrás, este blog publicava as fotos do 1º Forrozão Bingado da Melhor Idade, no Grupo de 3ª Idade Rainha da Paz, realizado com seus sócios, voluntários e familiares. O arrasta-pé grátis foi animado pelo Trio Biriteiros do Forró, de São José do Egito. Durante a festa teve um bingo para custear as despesas e um bolo de chocolate para comemorar os aniversariantes dos meses de julho e agosto. 

ARTIGO | Quem apoiou a reforma trabalhista e a precarização na pandemia é culpado pelas 100 mil mortes

Por Jorge Luiz Souto Maior, em seu blog

Editorial da Folha de S. Paulo de hoje[i] defende que o “maior responsável pela tragédia se chama Jair Bolsonaro”. E, de fato, a postura do presidente, negando, desde o princípio, a gravidade do problema, incentivando as pessoas a abandonarem o isolamento social, com base no argumento de que a economia não pode parar, contribuiu, decisivamente, para que, no Brasil, o novo coronavírus vitimasse, proporcionalmente, mais pessoas do que em qualquer outro país do mundo(*). E o número de mortes, seguramente, é bem maior que esse oficialmente admitido[ii].

Mas há muito mais culpados que devem integrar esse rol, a começar, exatamente, pelos veículos da grande mídia, assim como por políticos, governantes e profissionais da área jurídica, que estimularam o aumento da precarização das relações de trabalho fixada na "reforma” trabalhista, a qual impulsionou a ampliação da terceirização, o trabalho intermitente, a fragilização dos sindicatos e a negação do acesso à justiça, dentre outras formas de redução de direitos, e que, por consequência disso, nos legou a realidade de mais de 40 milhões de trabalhadores na informalidade, conforme se constatou no número dos que se inscreveram para receber a primeira parcela do benefício emergencial em abril deste ano[iii].

Além disso, foram essas mesmas pessoas e instituições que (mesmo, muitas delas, colocando-se contra as políticas de saúde pública do governo e criticando a postura individual do presidente) prestaram pleno apoio às medidas do governo (respaldas pelo Congresso e sem uma completa discordância dos partidos de oposição, é bom que se diga) que, favorecendo economicamente apenas a grandes empresas, aumentaram ainda mais a precarização das relações de trabalho em plena pandemia. Por meio das MPs 927 e 936 se permitiu às empresas imporem aos trabalhadores redução de salários, suspensão de contratos, extrapolação da jornada normal sem o pagamento de horas extras, além da possibilidade de redução de direitos por acordo individual (o que foi chancelado pelo STF, que, assim, também se integrou ao rol), tudo isso sob a ausência plena de alguma garantia efetiva contra o desemprego.

E o que isso tem a ver com as 100 mil mortes?

Tudo, porque como já se tem por revelado, as pessoas que estão morrendo são as vítimas históricas da opressão e da desigualdade social no país: pobres e pretos[i], sendo certo que a pobreza aumentou muito nos últimos anos[ii] e, certamente, foi impulsionada pela “reforma” trabalhista, que, ao mesmo tempo, proporcionou o aumento do lucro das grandes empresas[iii].

Concretamente, estão morrendo os que foram conduzidos à informalidade e que, durante a pandemia, perderam toda a renda, ficando sob a dependência do auxílio emergencial (que demorou a ser pago e ao que muitos sequer tiveram acesso), os que foram conduzidos ao desemprego e os que foram obrigados a continuar trabalhando com redução de salários e aumento dos riscos no trabalho e no transporte, sem falar dos que se mantiveram trabalhando na total informalidade, caso dos entregadores, submetidos a toda série de riscos. São essas pessoas (e seus familiares) os que compõem, majoritariamente, o número em questão.

De fato, o que se tem (e nada se fala) é um morticínio da classe trabalhadora – domésticas, enfermeiras, médicos(as), pedreiros, petroleiros(as), condutores(as), coletores(as) de lixo, trabalhadores(as) rurais, trabalhadores(as) em frigoríficos, terceirizados(as), condutores(as), entregadores etc., que apenas aparecem na grande mídia no relato formal de “heróis” e “heroínas”, além dos informais e desempregados(as)...

Importante perceber que uma das medidas do governo foi negar a doença como acidente do trabalho e, embora o STF tenha declarado tal norma inconstitucional, vez que se exigia a prova por parte do empregado que o contágio da doença se deu no ambiente de trabalho, também não se direcionou, concretamente, como seria necessário, no sentido contrário, afirmando inequivocamente que a aquisição da doença por um trabalhador em atividade é doença do trabalho e, portanto, um acidente do trabalho.

Assim, as empresas não estão emitindo a CAT e, com isso, não se tem o número estatístico de trabalhadores(as) infectados(as), inclusive por setor produtivo[iv].

Desse modo, mais uma vez na história, os(as) trabalhadores(as) são apagados(as) e o que aparece nas estatísticas dos hospitais é a morte de um cidadão, sem vínculo com uma classe social específica. O número de trabalhadores e trabalhadoras atingidos(as) é propositalmente negligenciado, embora tenha sido impossível deixar de reconhecer o recorde de mortes de profissionais da saúde[v] e o altíssimo índice de infectados entre os(as) trabalhadores(as) frigoríficos[vi].

A negligência com relação à garantia de emprego, inclusive, tem favorecido a dispensa de trabalhadores e trabalhadoras no primeiro indício da doença, o que se verifica com mais incidência ainda entre os(as) trabalhadores(as) terceirizados(as). É faltar ao serviço por doença, ou explicitar algum sintoma, que se perde o emprego...

A ausência do Estado, também estimulada nas MPs (que foram aplaudidas ou meramente negligenciadas pela grande mídia), na fiscalização das empresas quanto a concessão de equipamento de proteção individual aos(às) trabalhadores(as), com a eficácia e a quantidade necessárias, conforme cientificamente determinado, contribuiu igualmente para o aumento do contágio entre trabalhadores(as).

E compete não olvidar que os(as) trabalhadores(as) são, certamente, transmissores para seus familiares e demais pessoas com as quais mantêm contato, sobretudo, nos transportes públicos, que continuam lotados, em muito lugares, ainda mais agora quando a vida parece ter voltado ao “normal”.

Cumpre também destacar que a política restritiva de direitos trabalhistas, com aumento da precarização do trabalho, não garantiu empregos. Mais de 9 milhões de trabalhadores(as) perderam o emprego na pandemia[vii] e isso se deu, sobretudo, porque as medidas do governo (que receberam apoio expresso da grande mídia) só tiveram alguma serventia – e para os objetivos errados, isto é, para favorecer a preservação (e até o aumento) de lucros –, pois para pequenas empresas (como bares e restaurante, por exemplo), cujos negócios foram interrompidos na pandemia, redução de salários e suspensão de contratos muto pouco ou nenhum resultado econômico efetivo produz.

Essa avalanche social e econômica está representada no número de pessoas dependentes do benefício emergencial, que saltou de 45 milhões, em abril, para 65 milhões, em julho[viii].

O fato concreto e insofismável é que a situação de pauperização e abandono, para favorecimento dos interesses econômicos de poucos, a que foi conduzida à classe trabalhadora ao longo da história brasileira, mas, de forma ainda mais intensa, pela “reforma” trabalhista e pelas medidas de “enfrentamento” adotadas pelo governo durante a pandemia, está diretamente ligada à tragédia sanitária e humanitária que se está vivenciado no Brasil e todos(as) aqueles(as) que contribuíram para que essas medidas se consolidassem e fossem validadas e aplicadas têm uma grande parcela de culpa na produção dessa triste realidade.

Ou, com honestidade e dignidade, reconhecemos isso e, assim, vislumbramos alguma chance de reversão desse quadro, o que exige a revogação de todas essas medidas e a formulação de um novo pacto social que efetivamente integre a classe trabalhadora, distribua justamente a riqueza socialmente produzida e respeite a vida (sem quaisquer discriminações e preconceitos), ou, assumindo a nossa incapacidade de constituirmos uma nação, estaremos condenados a, em pouco tempo, falar sobre as 200.000 mil mortes ou mais...

Trata-se, pois, de uma tarefa urgente e que está, obrigatoriamente, direcionada a todas as pessoas (pois o silêncio também é comprometedor) e, principalmente, às instituições que, comodamente, se colocam como “espectadores críticos”, que não assumem sua parcela de culpa pela produção da realidade que estamos passando e tergiversam com relação à necessidade urgente de se rever todas as políticas de precarização das relações de trabalho.

Brasil, 08 de agosto de 2020

[i]https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/08/luto.shtm

(*). De fato, considerando apenas os números oficiais, o Brasil é o segundo país com maior número absoluto de mortes, igualando-se, do ponto de vista da proporção populacional, ao líder Estados Unidos (160 mil). Nota acrescida em 09/08/20, às 22h00.

[ii]. Vide, a propósito, SEVERO, Valdete Souto. “Bem mais que 100 mil”. Disponível em: https://www.ajd.org.br/noticias/2675-bem-mais-que-100-mil

[iii]https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/04/17/452-milhoes-de-pessoas-foram-aprovadas-para-receber-o-auxilio-emergencial.ghtml

[i]. https://epoca.globo.com/sociedade/dados-do-sus-revelam-vitima-padrao-de-covid-19-no-brasil-homem-pobre-negro-24513414

https://veja.abril.com.br/saude/coronavirus-o-perfil-com-maior-risco-de-morte-por-covid-19/

[ii]. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/06/politica/1573049315_913111.htm

[iii]. https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/08/16/empresas-capital-aberto-lucro-segundo-trimestre.htm

https://exame.com/negocios/as-20-empresas-que-mais-lucraram-no-2-trimestre-do-ano/]

[iv]. https://ojoioeotrigo.com.br/2020/06/brasil-nao-tem-dados-sobre-trabalhadores-infectados-por-covid-19-por-setor-economico/

[v]. https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/27/brasil-e-o-pais-com-mais-mortes-de-enfermeiros-por-covid-19-no-mundo-dizem-entidades.ghtml

[vi]. https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/07/13/mpt-confirma-62-mil-casos-de-coronavirus-em-frigorificos-do-rs.ghtml

[vii]. https://www.jornalcidade.net/rc/quase-9-milhoes-ficam-sem-trabalho-em-tres-meses-e-taxa-de-desemprego-vai-a-133/157785/]

[viii]. https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-07/auxilio-emergencial-653-milhoes-de-brasileiros-recebem-4a-parcela#:~:text=Aux%C3%ADlio%20emergencial%3A%2065%2C3%20milh%C3%B5es,a%204%C2%AA%20parcela%20%7C%20Ag%C3%AAncia%20Brasil


ENTREVISTA | Petersen: "A crise do coronavírus escancara os limites do capitalismo"


Por  Priscila Viana | Brasil de Fato PE

Pesquisador aponta as relações entre o agronegócio e a pandemia do coronavírus e defende a viablidade da Agroecologia. 

Petersen é coordenador executivo da AS-PTA e membro do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). 

Grandes unidades de abate e processamento de carne de gado, de porcos e de aves são apontadas como focos de propagação do vírus Sars-CoV-2 em países como França, Estados Unidos e Brasil - não por coincidência, alguns dos maiores epicentros mundiais da pandemia. 

“Ao fim e ao cabo, a crise do coronavírus escancara os limites do capitalismo neoliberal como modelo de gestão política e econômica das sociedades contemporâneas”, aponta o pesquisador e coordenador executivo da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Paulo Petersen, que atualmente compõe a coordenação executiva do projeto “Ação Coletiva Comida de Verdade: aprendizagem em tempos de pandemia”, uma iniciativa de mapeamento e sistematização das experiências de abastecimento alimentar pelo Brasil. 

Ao abordar a centralidade da conexão natureza-alimento-saúde sob a perspectiva da agroecologia, Paulo aponta o fortalecimento da agricultura familiar camponesa e a democratização dos sistemas agroalimentares como medidas necessárias à garantia da saúde e da soberania e segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Confira a entrevista CLICANDO AQUI
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