9.12.20

CRÔNICA | Poroca, uma morte anunciada, uma vida negada - Por Raimundo Romão

"E se ele não tivesse nascido nem preto nem pobre...."? 

“Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão!” (Mateus 26:52). Como tudo o que vertia da boca do Cristo, essa é mais uma das suas infindáveis verdades. Pois bem, o desfecho da vida do jovem tuparetamense foi fidedigno à parábola milenar e atemporal do Nazareno. 

Tornou-se ele um assassino e naturalmente acabou assassinado. Juridicamente ele era um criminoso, não há dúvidas quanto a isso. Perturbou, brigou, agrediu, ameaçou, assassinou. Contudo, filosoficamente ele foi uma vítima, não de alguém, mas de uma estrutura, de um sistema cujo tecido social é demasiadamente frágil e não contempla todos. 

Filho de uma família pobre, preta e desestruturada, como milhões de famílias desse Brasil desigual, não teve um berço com forros e fronhas com o nome Príncipe Fulano. Digo mais, sequer teve um nome, ou vocês conheciam Janaildo Salviano da Silva? 

Para ele a vida reservou apenas uma única alcunha, chamava-se POROCA. Os incontáveis desajustes do lar o levaram às ruas, onde cresceu e onde morreu. Foi um homem marginal, no sentido clássico do termo, pois cresceu e viveu à margem da sociedade. Não conheceu os prazeres de frequentar uma Escola, apesar de morar a poucos metros de uma, mas conheceu bem as fugacidades dos bares. 

O famoso Poroca foi uma criança balançada pelos braços da rua, as palavras de ternura e incentivo que ele criou-se ouvindo foram gritos e xingamentos, sua alcunha tornou-se sinônimo de ruindade. Poroca deu o que recebeu e por fim recebeu o que deu. 

Janaildo Salviano da Silva, vulgo Poroca, não era uma exceção de uma criação totalmente desprovida de acolhimento, preocupação, afeto e amor, ele era a regra. A exceção é ser criado no mesmo universo social e familiar em que ele foi e apesar disso alguém tornar-se um homem sereno, correto e íntegro. 

Não estamos aqui para santificá-lo e nem para apedrejá-lo. Estamos aqui somente para refletir. E já que começamos com palavras do Mestre Jesus também terminaremos com elas: “...Cada um segundo as suas obras” (Romanos 2:6)

Raimundo Romão 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...