4.10.16

OS POLÍTICOS QUE O MUNICÍPIO PRECISA OU OS POLÍTICOS QUE O MUNICÍPIO MERECE? Analisando as eleições 2016 em Tuparetama – Parte 1



Por Tárcio Oliveira

E o resultado das urnas em Tuparetama confirmou a vitória do candidato Sávio Torres para prefeito do município, com 52.10% dos votos válidos. Não se pode dizer que foi uma surpresa, Sávio sempre esteve à frente nas pesquisas com nomes de candidatos a prefeito e era o candidato natural da oposição desde a campanha anterior, quando seu candidato Valmir Tunu perdeu. 

A primeira surpresa da campanha eleitoral deste ano, de fato, em relação a Sávio Torres foi conseguir na justiça eleitoral o registro de sua candidatura, já que a maioria apostava no contrário, levando-se em consideração as denúncias e os processos na justiça relacionados às suas gestões de 2004 a 2012. A segunda surpresa da campanha diz respeito à Dêva Pessoa, que entrou na campanha desacreditado e em desvantagem sobre o adversário Sávio Torres. As conversas de rua previam uma grande vitória de Sávio Torres, o imbatível. A vitória veio, mas não foi tão grande quanto supunham. No final da campanha tínhamos dois candidatos em pé de igualdade, ambos diariamente bombardeados e massacrados por uma disputa que esqueceu propostas e cordialidades e concentrou munição nos defeitos e nas falhas de cada um. 

Centro . Nem tudo aqui é tão simples ou tão tranquilo quanto parece.
Na minha análise particular Sávio foi mais atingido. Ou já estaria desde antes com o prestígio abalado por todas as denúncias recebidas e não tínhamos percebido. A vitória de Sávio nas urnas é o fato concreto e coroa a batalha da Coligação União pelo Progresso, mas a campanha dos seus adversários serviu para colar à sua imagem os adjetivos de “corrupto” e “desonesto”. É uma mancha que só o tempo, senhor da História, confirmará ou apagará. Mesmo que Sávio Torres consiga livrar-se de todas as denúncias e processos, provando sua inocência, estamos no país onde a “convicção” pessoal vale mais que “provas”. Somos viciados em julgar e condenar antes de provar. De todo modo, o que se percebe no momento, findada a batalha eleitoral, é que temos 48% dos eleitores contra o candidato eleito e que se unem ao “coro de um só”, o coro do rigoroso vereador Joel Gomes que travou uma campanha quase solitária como denunciador dos erros políticos e administrativos de Sávio. Agora é o coro de 3 mil e duzentos tuparetamenses. 

Há de se reconhecer a força da personalidade e da liderança de Sávio Torres, quer se concorde com meu raciocínio anterior ou não. É um político de coragem e autoconfiança impressionantes, além de hábil articulador e grande capacidade organizacional. O maior erro do atual grupo de situação, grupo do gestor Dêva Pessoa, foi supor um Sávio abalado, abatido ou “morto” como se disse muitas vezes e enfaticamente após a vitória de Dêva em 2012. Se na época esse tipo de comentário sobre o futuro de Sávio já parecia ridículo e apressado, agora com sua vitória ficou comprovado que era equivocado. 

Quanto à Dêva após a campanha e após o resultado das eleições desse domingo, dia 2, vai-se solidificando a imagem de forte líder popular, extremamente carismático quando em contato com o povo ou quando fala para o público. É um político monetariamente pobre e imediatamente identificado com o pobre, apesar de não comprometido ainda com uma agenda de esquerda. O resultado das eleições deste ano mostra que ele poderia ter ido mais adiante e poderia ter vencido a disputa. O equilíbrio final das campanhas dos dois candidatos ficou demonstrado na apuração dos votos. Tanto foi assim que os dois candidatos, Dêva e Sávio, ficaram o final da tarde do domingo “isolados” em suas casas, e em contato com pessoas mais próximas confessaram a derrota. Perceber que Dêva poderia ter vencido é uma constatação surpreendente, já disse isso, considerando-se a sua baixa popularidade como gestor no início deste ano. 

Comentava-se de modo geral sua tumultuada administração, sua dificuldade de manter aliados, alianças, e as disputas e desavenças internas nos grupos que compõem sua base de sustentação. Tudo isso gerou desgastes imensos e alguns deles influenciaram na campanha. Por outro lado Dêva assim como os demais prefeitos da região tiveram a desdita de governar num dos piores períodos da história recente do país, com o agravamento da crise econômica, corte de verbas e de projetos federais e estaduais além da pior crise hídrica do Pajeú, agravada por uma seca das maiores já registradas. 

Confronto entre Devistas e Salvistas
Mas analisando de um modo imparcial e “de fora” o resultado da eleição, tanto faz ganhar Sávio Torres ou Dêva, Tanta ou Ivaí, Verde ou Azul, Amarelo ou Vermelho. O político/gestor é resultado do eleitor. Não está acima nem à parte, é conseqüência do modo de pensar e agir do seu eleitorado. E como nos comportamos, nós cidadãos eleitores? Como de costume, mesmo sem provas, surgem as ‘convicções’ de compra/venda de votos. Também suspeita-se de transferências ilegais de eleitores de outras localidades (essas mais fáceis de se averiguar). 

As campanhas eleitorais no país carregam a marca do desrespeito às regras legais. E nas cidades pequenas como Tuparetama são disputas polarizadas, com quase nenhuma possibilidade de diálogo. O “outro” lado é visto e tido como o “inimigo”, o “adversário a ser combatido e vencido”. Essa perspectiva imatura e desgastante de um processo político não somente dificulta a discussão de propostas sérias, a troca de idéias e a construção de uma agenda efetiva como também deixa marcas profundas na comunidade. É uma espécie de guerra civil sem mortos, mas com centenas de feridos. E ela prossegue interminável, com seus palanques armados. Foi assim desde 2012, infelizmente não parece dar sinais de evolução. Percebe-se pela maneira extremamente agressiva (sobretudo no desrespeito ao outro) com que se comemora a vitória. Foi assim também na comemoração da vitória em 2012. É natural a vontade de extravasar a alegria e o sentimento de poder quando se conquista uma vitória. É válido cantar, rir, vibrar, correr, fazer passeatas, carreatas, travestir-se, fantasiar-se, enfim, festejar. Nada justifica agredir pessoas, rasgar adesivos de adversários, xingar, bater em portas, pichar comitês, depredar espaços públicos, desrespeitar o direito das pessoas descansarem e dormirem em paz em suas casas.

( Continua na Parte 2
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