Por Tárcio Oliveira
Se mulher votasse em mulher nós teríamos pelo menos 5 mulheres na Câmara de Vereadores a cada eleição. Obviamente gênero não determina caráter nem competência política, mas o baixo número de mulheres eleitas nesta campanha em todo o país é uma constatação de que o território da política partidária ainda carrega o ranço machista. As mulheres representam a maioria do eleitorado brasileiro, mas não se fazem representar nos espaços políticos.
Também não precisamos nos demorar analisando o machismo no Brasil, basta lembrar o absurdo abuso sexista das campanhas contra a presidenta Dilma que culminaram no golpe parlamentar, com a instalação desse atual “governo” temeroso, de homens brancos, héteros, de direita e entreguistas. Ser mulher e abraçar a política partidária na atual conjuntura do país só reforça a idéia de que elas são sim mais destemidas que muitos homens.
Dito isto, louvo a vitória de duas candidatas para a composição da próxima Câmara de Vereadores de Tuparetama: Vandinha da Saúde e Priscilla Filó. É pouco, meu ideal de Câmara de Vereadores é 5-4 para as mulheres, sou declaradamente pró-mulher e pró-feminista, mesmo que, ainda, poucas candidatas femininas o sejam. E se não há nenhum diferencial favorável entre a postura política e as propostas das mulheres candidatas em relação aos homens candidatos, os eleitores e as eleitoras machistas (mesmo que inconscientemente machistas) votarão nos homens, pois na ‘escala de valor’ machista o homem sempre vale mais e pode mais que a mulher.
Mais uma vez, a constatação se faz no resultado das eleições para as câmaras de vereadores. Não há para nós exemplo mais enfático disso que uma cidade do porte e da importância regional de Afogados da Ingazeira com nenhuma mulher vereadora! Entre as mulheres afogadenses que concorreram à câmara não havia uma sequer tão capaz quanto os homens eleitos?
Tratando-se de Tuparetama e sua história legislativa, a mulher sempre esteve presente na composição da Câmara de Vereadores, embora em minoria. Raro o período sem vereadoras eleitas, como o caso da atual bancada, com 9 homens. A partir de janeiro de 2017 voltam as mulheres à Casa, através de Priscilla e Vandinha. Ao lado dos seus 7 colegas de mandato, formam o novo perfil do Poder Legislativo e fiscalizador do município, do qual já podemos adiantar:
A maioria simples (5 a 4) assume o mandato como oposição do prefeito eleito, Sávio Torres. Dois dos eleitos (Danilo e Diógenes, os mais bem votados) assumem um segundo mandato seguido, já com boa experiência no currículo. Mais dois são veteranos e prosseguem também de modo ininterrupto seus mandatos, os vereadores Arlã Markson e Idelbrando Valdevino. Orlando e Valmir Tunu já foram vereadores e retornam agora, depois de um período sem mandato. Os/as demais, inclusive as duas mulheres, são novatos/novatas.
Quanto à escolaridade, apenas um vereador tem nível superior (Arlã) completo e um com ensino fundamental incompleto (Plécio). Dois com superior incompleto (Diógenes e Priscilla) e o restante com nível médio. As faixas etárias estão bem distribuídas, sendo 2 vereadores jovens ( Danilo e Plécio, com menos de 30 anos), um acima de 60 anos (Orlando) e o restante com idade entre 30 e 50 anos. Dois são funcionários municipais (Idelbrando e Vandinha), um sindicalista (Orlando) e os demais são autônomos e microempresários; três dos vereadores se denominam evangélicos ( Vandinha, Danilo e Diógenes) e os demais católicos. Não há vereador oriundo ou representante “formal” do distrito Santa Rita nem das comunidades rurais organizadas.
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O caminho entre a Tuparetama que temos e a Tuparetama que queremos também passa pela Câmara de Vereadores |
Numa análise rápida e superficial das propagandas, mensagens e discursos dos candidatos e candidatas eleitas (por isso demorei mais para concluir este texto) percebe-se que teremos uma Câmara conservadora e que ainda não aprofundou o debate das carências, demandas e potencialidades do município. Temas fundamentais na atualidade e imprescindíveis para o futuro do município como conjuntura econômica, orçamento participativo, desenvolvimento sustentável, segurança pública, drogadição, igualdade de gênero e combate à violência/preconceito/discriminação, segurança hídrica e alimentar, previdência municipal, responsabilidade socioambiental, entre outros, sequer foram abordados e decerto nem todos os eleitos tem qualquer opinião formada a respeito.
Vê-se que os desafios pessoais e sociais a serem enfrentados pelos vereadores são muitos e alguns nada fáceis. Sobretudo porque ainda se vota/votou em troca de favores e tanto eleitores quanto candidatos confundem função de vereador com função de administrador.
Vamos usar um chavão neste final de texto, aquele que diz que os políticos são retrato/reflexo da sociedade que os elegeu. Mais que isso, são também nossos empregados, nossos servidores, nossos funcionários, recebem e receberão pagamento nosso para trabalhar muito e trabalhar bem, não em benefício dos seus (amigos, eleitores, familiares) mas de toda a comunidade. Como “patrões” e “patroas” cabe a nós acompanhar de perto, fiscalizar, cobrar resultados desses nossos eleitos. Como queremos o melhor e muito sucesso tanto para o município quanto para os eleitos e as eleitas, desejamos boa sorte e muito suor.