27.4.11

VOCÊ TEM CERTEZA QUE NÃO PODE FAZER NADA?

Ginásio de Tuparetama, também conhecido como Cracolásio, a "cracolândia" da cidade.

Ontem pela manhã o jovem conhecido como Rogerinho (Anderson Rogério Ferreira da Silva), de 17 anos, foi encontrado morto por apedrejamento e com o pescoço quebrado. O corpo estava no matagal que fica atrás do Ginásio de Esportes, local bastante utilizado pelos jovens para o consumo de drogas, como é do conhecimento de toda a comunidade, da polícia inclusive, suponho. A suspeita recai sobre a turma de amigos do próprio Rogério, jovens como ele.

Enquanto escrevo este pequeno texto sobre o dia 26 de abril, muitas dúvidas e poucas certezas nos afligem.

Dúvidas... cada um de nós parou hoje para se perguntar: Por que? O que está acontecendo em Tuparetama? O que se passa com nossos jovens? Para onde está indo nossa sociedade? Por que as “autoridades” não fazem nada? Etc. etc. etc.

Certezas.... elas, as poucas certezas. Talvez nos apontem caminhos. Que todo terror trazido por este dia sirva-nos pelo menos para perceber as poucas certezas gritando como sirenes no desesperador silêncio das dúvidas...

A certeza de que a onda de violência que vem assustando Tuparetama, com inúmeros casos de roubo e morte, está diretamente relacionada ao consumo e venda de drogas, sobretudo maconha e crack, mas não só elas, álcool também.

A certeza de que omissão e impunidade geram medo, insegurança e mais violência. E a impressão que temos, nós cidadãos, é que o poder público se omite (ou pelo menos não consegue fazer o que esperamos que faça) na repressão à venda de drogas e na punição aos responsáveis, no caso das polícias e da justiça; Que o poder público, no caso de governantes e legisladores, também expõe sua omissão com a falta de políticas efetivas para a redução de pobreza, na ausência de atendimento integral e decente a crianças e jovens em situação de risco e de vulnerabilidade, com o mal aparelhamento e as péssimas condições de funcionamento dos Conselhos de Direitos e Tutelar, com a quase sempre limitada promoção de atividades de lazer e cultura de qualidade e sem buscar soluções para a oferta de emprego e de programas de geração de renda. Mas não devemos esquecer que o poder público está a nosso serviço e, num regime democrático, sob nosso comando. Como temos feito nossa parte nessa engrenagem? Apenas dizendo “basta” e ruminando nossa acomodadíssima indignação? E por que não lembrar aqui também da omissão de pais e responsáveis que não acompanham a vida de seus filhos menores de idade, não impõem limites, não cumprem com suas responsabilidades de maiores e não favorecem um diálogo amoroso e construtivo com seus filhos, diálogo esse que mais proveitoso será se estiver apoiado no exemplo de vida.

No meio dessas certezas, outra não menos cruel: o assassinato de Rogério não foi o único. Não é o primeiro. Não será o último. Na semana passada uma morte nos incomodou e nos chocou em menor grau, talvez por não apresentar a cruel violência da morte de hoje, mas não é menos representativa da sociedade doente em que nos tornamos: um jovem de 20 anos, viciado em crack suicidou-se com veneno no Bairro Bom Jesus. A família pobre procurou bastante e por muitos meses, mas não encontrou apoio nem tratamento para o problema do filho.

A última certeza que gostaria de lembrar é que já passa, há muito, da hora de agir. Há dois anos nos reunimos na Câmara de Vereadores com políticos, polícia, gestores públicos, professores, comerciantes, empresários e religiosos. Alertávamos para a questão do crescente consumo de drogas em nossa cidade e das conseqüências que viriam pela frente. Propomos a formação de um grupo de trabalho e de uma campanha intensa, com foco na formação, prevenção e repressão. O grupo não foi além da 2ª reunião...

SIM, somos todos culpados pelo que está acontecendo em Tuparetama. Como no conhecido poema de Vladimir Maiakóvski, não dizer e não fazer nada é o que nos destrói : 

 "Na primeira noite eles aproximam-se 
e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada. 
Na segunda noite, Já não se escondem; 
pisam as flores, matam o nosso cão, 
e não dizemos nada. 
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, 
rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, 
arranca-nos a voz da garganta. 
E porque não dissemos nada, 
Já não podemos dizer nada."

Tárcio Oliveira | Tuparetama | abril de 2011
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