Páginas

17.3.20

ARTIGO | Reflexões de um homem acerca do 8 de março


Por Alexandre Junior | Recife-PE

Passei o recente dia 8 de março pensando no que dizer sobre a mulher. Mas, não consegui construir nada. Sempre que esboçava algumas palavras me vinha à mente Marielle. Quando achava algumas linhas me lembrava que o Brasil é um dos campeões mundiais em feminicídio. 

Penso em desistir de escrever. Porém, lembro-me do governo que incentiva, menospreza e valida a violência contra mulher. Inquietei-me. Não dá para ficar calado, não podemos silenciar. Este silêncio é venal, é violento é assassino, é omisso, é conivente. 

Confesso que embarguei, os sentimentos que me tomaram foi um misto de vergonha e revolta. Enchi-me de perguntas e questionamentos: Como interajo com esta sociedade enquanto homem? Que preconceitos reproduzo com minhas atitudes? 

Entendi que, como primeiro passo, deve existir o conhecimento e aceitação de algumas verdades sociais: a sociedade é sim machista, o sistema é sim patriarcal, e, queiramos nós homens admitirmos ou não, é hostil para as mulheres, que estão morrendo e sofrendo violência por serem quem são, por ocuparem espaços que lhe são seus por direito e que são conquistados literalmente a base de sangue, suor e lágrimas, nada nunca lhes foi conseguido sem este amargo e alto preço. 

Em meus devaneios cheguei a seguinte conclusão, o silêncio não colabora, não ajuda, não faz diminuir a violência, não adianta apenas ser um homem “sensível a causa”, é necessário um arregaçar de mangas, participar das militâncias e o mais importante, é imperioso desconstruir o machismo que existe em você. 

Mulher não é território. Portanto, não tem dono. 
Mulher não é objeto. Portanto, não estabeleça posse. 
A mulher tem o direito de estar onde quiser e de ser o que bem desejar. Precisa realmente ser muito homem para admitir o machista que mora dentro de você e ser ainda mais homem para desconstruí-lo. 

Seguir o fluxo é fácil. Nadar contra a correnteza é sempre mais difícil. Embora a sociedade te reproduza ações que te encaminhem para que sigas na direção das águas turvas do machismo e da misoginia, seguir vai ser sempre escolha nossa. 

Por uma sociedade mais justa, equânime, por homens, não só sensíveis à causa, mas disponíveis à causa, prontos para ombrearem-se a luta, dispostos a intervir, a participar e principalmente a viver em sua prática diária a desconstrução de toda forma de machismo e misoginia.

Alexandre Junior é escritor, pedagogo e palestrante espírita